REFORMAS
CONSTITUCIONAIS E A CRISE DO GOVERNO
( Justiça & Cidadania, Pgs.
12 e 13 , Setembro/2013)
Há cinco reformas necessárias
para diminuir o custo do Brasil e voltar o país a ter competitividade, a saber:
a política, a administrativa, a trabalhista, a previdenciária e a do
Judiciário.
Todas as manifestações dos
últimos tempos, em que as pessoas sabem o que não querem, mas não sabem o que
querem, e o que pensam querer, não sabem como fazer, são a prova inequívoca de que
há algo que não vai bem, no governo e no país.
A maioria do povo que vai às ruas
pede transparência, honestidade no trato da coisa pública e reformas. Abstraio
os vândalos, que deveriam ser detidos, de imediato, sendo-lhes aplicada a lei
penal vigente.
Tanto o Governo, como o Congresso
não perceberam a mensagem ou fingiram não perceber. A presidente propôs um
plebiscito, que o povo não pediu. O Congresso criou uma Comissão de Reforma Política
sem consultar a sociedade. O resultado esperado foi, nas pesquisas posteriores
a estas iniciativas, o repúdio da opinião pública, com idênticos índices de
repulsa, antes e após a realização das mesmas.
Haveria necessidade de uma
reforma administrativa para reduzir o peso da adiposa e esclerosada máquina
pública, a começar no âmbito federal. Uma reforma tributária para eliminar a
guerra fiscal de Estados e Municípios e para simplificar o sistema tributário
também seria imprescindível. A Comissão do Senado de que participei –eram 13
especialistas— propôs 12 anteprojetos de emendas constitucionais, leis
complementares, ordinárias e resoluções do Senado que jazem, em berço
esplêndido, nos armários do Congresso. E, ainda, de rigor uma reforma
trabalhista para nivelar o país às economias mais competitivas do planeta, assim
como a reforma previdenciária - já em andamento -, para equalizar os cidadãos
de 1ª categoria (aposentadorias integrais – servidores públicos) e de 2ª
categoria (cidadãos comuns – 10 salários mínimos no máximo), em patamar que não
viesse a implodir o sistema. A reforma do Judiciário é outra medida que se impõe,
a começar pela exigência de que todos os assessores de Ministros, que auxiliam
na elaboração dos votos, sejam concursados para esta função, de preferência
juízes. Não deveriam ser escolhidos livremente, algumas vezes sem a
qualificação necessária ou sem independência, por pertencerem à Procuradoria da
Fazenda Nacional, Procuradorias das Fazenda Estaduais, o que compromete a
imparcialidade, quando União ou Estados são parte nos processos.
Quanto à reforma política, na
Comissão da OAB-São Paulo que presido e que é constituída pelo seguintes
juristas, Alberto Rollo, Alexandre de Moraes, Almino Affonso, André Ramos
Tavares, Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, Cláudio Lembo, Dalmo Dallari,
Dirceo Torrecillas, José Afonso da Silva, Maria Garcia, Ney Prado, Paulo de
Barros Carvalho e Samantha Meyer Pflug, estamos estudando, a curto prazo,
questões como o voto distrital, financiamento de campanha, reeleição, número de
partidos, coligações, plebiscito ou referendo. E, a longo prazo, bicameralismo ou
unicameralismo, parlamentarismo ou presidencialismo.
Todas estas matérias exigem
reflexão de especialistas e de governantes e, à evidência, por sua
complexidade, não podem ser objeto de plebiscito, no máximo podendo aceitar-se
um referendo. O certo, todavia, é que, mais do que as reformas, há necessidade de
mudanças na política econômica do país.
Ninguém discute ser a presidente
Dilma uma mulher honesta e trabalhadora. Todavia, seu estilo autoritário de
conduzir o país torna seu Ministério não um Conselho, mas um grupo de ouvintes de
suas ordens. Sem nomes de expressão, como nos Ministérios do passado, são seus
colaboradores comportados executores, que
jamais contrariam as determinações
da comandante. Talvez, o fato de ter, no passado, participado da luta armada,
em movimento que, algumas vezes, assumiu facetas terroristas – com assassinato
de inocentes em atentados a bomba, em shoppings e supermercados - tenha
incutido, no seu estilo de liderança, esta
característica temperamental,
detalhista e impositiva. Creio que possivelmente, por este seu passado, é que a
presidente se sinta tão atraída pelas posturas de seus colegas bolivarianos: o falecido
Chavez, Maduro, Morales, Corrêa e Cristina, todos aprendizes de ditadores.
Tanto é assim, que permitiu a
entrada da Venezuela no Mercosul, apesar de esse país não ter aceito, à época,
a totalidade do acervo normativo do Tratado, e excluiu o Paraguai, que, na
deposição do presidente Lugo, apenas cumpriu o que determinava o artigo 225 de
sua Constituição, ou seja, o afastamento por mau desempenho, em processo
límpido, claro, com apoio popular e sem qualquer uso de força, permitindo,
inclusive, que o deposto, logo em seguida, concorresse ao Senado. O governo
desse pais democrático não
sofreu, nas ruas de suas
principais cidades, grandes contestações por parte da sociedade, nem queda de
popularidade, como a presidente Dilma tem experimentado, no Brasil. No
Paraguai, não se controla o Judiciário como na Venezuela, que não permite sequer
recontagem de votos, numa eleição em que a ínfima
diferença de votos a favor do
candidato bolivariano eleito, justificaria que fosse feita, como ocorre nas
verdadeiras democracias.
O certo é que a Presidente Dilma,
em virtude de suas simpatias bolivarianas, passou a seguir a política de seus
colegas, tornando-se acólita de Cristina, Maduro, Morales e Corrêa. E começa a
colher os mesmos frutos, ou seja, baixo PIB, alta inflação, descontrole cambial,
protestos populares e perda de competitividade
internacional por força da má
condução da economia, amarrada pelo Mersosul, impedida de fazer acordos
internacionais, aceitando todos os desaforos econômicos de seus parceiros,
violadores permanentes das regras do Tratado de Assunção. No seu estilo
autoritário, investiu no consumo e não no desenvolvimento empresarial, gerando
inflação de demanda, no momento em que estimulou a baixa de juros. Quando
Irving Fischer definiu que a teoria do juro é determinada pela oportunidade de
investir contra a impaciência de gastar, quis mostrar que, quando se baixam os
juros e estimula-se o consumo, a inflação é decorrência. E o mero consumo, sem
investimentos em tecnologia e na indústria, tem vida curta. Não sem razão o
retrocesso econômico do Brasil, nestes dois anos e meio do Governo Dilma, foi
notório, com a agravante de, risioneira
de seus colegas bolivarianos, ter
feito o Brasil perder a autonomia e a liberdade na celebração de acordos
bilateriais, que lhe permitiriam melhorar não só a performance da balança
comercial, como, pelo menos, reduzir o dantesco “déficit” do balanço de pagamentos.
No modelo bolivariano, a máquina
governamental cresce e sufoca o segmento privado, gerando pressão inflacionária
que, segundo Steven Webb, foi o principal fator da hiperinflação da República
de Weimar.
Ora, a única forma de combater a
inflação com redução de juros, seria reduzir as despesas de custeio da máquina
administrativa, algo que, no modelo bolivariano, é impossível e, no Governo
Dilma, inaceitável. Tanto que tem 39 Ministérios...
Neste quadro em que o PIB
decresce, a inflação cresce, o câmbio se descontrola, a máquina administrativa
desperdiça, a balança comercial gera déficits e as contas externas se
descompassam, causa espécie que a Presidente pretenda manter-se fiel aos ideais
dos regimes bolivarianos e continue a não perceber que está
levando o País a um fantástico
retrocesso, sendo mais conduzida por seus parceiros do MERCOSUL, do que pelos
interesses do Brasil.
Como cidadão que considera a
presidente Dilma uma mulher honesta e trabalhadora, gostaria que tivesse
humildade de raciocinar e, analisando o fracasso de sua política econômica, decidisse,
definitivamente, liberá-la das amarras ideológicas e passasse a cuidar dos
verdadeiros interesses nacionais, que não
são, necessariamente, aqueles
acalentados pelos seus amigos, aprendizes de ditadores. E que, para o bem do
Brasil, mudasse o rumo de seu governo.