sexta-feira, 23 de novembro de 2012

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Falta pouco Bruno



Em réplica, promotor vê Macarrão 



'protagonista' e mostra mais provas


Para Castro, Macarrão buscou minimizar responsabilidade em confissão.
Ele mostrou a jurados fotos de bebê achadas próximas do sítio de Bruno.


Rosanne D'Agostino
Do G1, em Contagem 
(MG)


Em sua réplica no júri popular do caso Eliza Samudio, feita nesta sexta-feira (23) no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro apontou Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, como "protagonista" dos acontecimentos que resultaram na morte de Eliza Samudio, em 2010. Ele citou um depoimento de Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro Bruno Fernandes de Souza: "Sérgio, sobre a atuação do Macarrão, apontada por ele como de extrema relevância na divisão de tarefas que foi estipulada [...] Macarrão é colocado como protagonista desses acontecimentos".
Ele rebateu as afirmações de Carla Silene, responsável pela defesa de Fernanda Gomes de Castro, namorada de Bruno na época do desaparecimento de Eliza, de que "Minas Gerais possui a pior polícia investigativa de homicídios do Brasil". Para ele, nenhum réu é levado a júri popular sem "a certeza da realidade do acontecimento" e, nesse caso, "a prova é firme".
Castro mostrou aos jurados álbum de fotografia encontrado por um repórter nas adjacências do sítio de Bruno. "Esse álbum tem fotos de um bebê. De um bebezinho do sexo masculino. Essas fotos foram encontradas idênticas no computador de Eliza", disse o promotor. "Era a foto do bebê dela, que estava na bagagem dela", completou ele, mostrando fotos tiradas do notebook de Eliza e comparando com as fotos queimadas.
O promotor falou sobre a confissão de Macarrão. "O réu dispôs-se a confessar. Mas veja, confessar a seu modo [...] Confessou buscando minimizar a própria responsabilidade, responsabilidade que todavia não se restringe à de mero partícipe. A responsabilidade é de coarticulador desses crimes", disse Castro, ressaltando que a confissão tem papel delineado, "a redução de pena, desde que tenha alguma relevância".
Ele também voltou a pedir a condenação de Fernanda Gomes de Castro, dizendo que ela sabia o que estava sendo planejado quando foi à casa de Bruno. "Ela chegou lá sabendo qual era sua tarefa. Já no sítio, Fernanda não tinha dúvida do que aconteceria com Eliza", disse Castro.
Próximos passos
De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), após o promotor expor seus argumentos pela segunda vez, os advogados de Macarrão e Fernanda terão direito à tréplica no plenário. Depois que acusação e defesa apresentarem suas alegações, o conselho de sentença se reunirá para decidir se os réus serão condenados ou absolvidos. A expectativa do TJMG é que a sentença seja proferida pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues ainda nesta sexta, finalizando o julgamento dos dois réus.
Promotor Henry castro, em foto no plenário e em ilustração conversando com jurados (Foto: Maurício Vieira e Leo Aragão/G1)Promotor Henry Castro, acima, em foto, no plenário;
abaixo, em ilustração, conversando com jurados do
caso Eliza (Foto: Maurício Vieira e Leo Aragão/G1)
Promotor apresenta provas
Na primeira rodada de argumentações, Henry Wagner Vasconcelos de Castro apresentou uma série de provas, entre elas registros de telefonemas realizados pelos réus Macarrão e Fernanda; laudo do sangue de Eliza achado no carro do atleta; e depoimentos de Jorge Luiz Rosa e de Sérgio Rosa Sales, primos de Bruno, dados à polícia e que trazem detalhes sobre a morte da ex-amante do goleiro.
De acordo com Castro, as provas mostram os passos de Eliza Samudio até a sua morte, em junho de 2010, desde o Rio de Janeiro até Minas Gerais, para onde ela foi levada. O laudo do sangue de Eliza achado no carro do goleiro Bruno mostra que ela "foi violentada, agredida, subjugada, foi levada ao interior da casa do goleiro no Recreio dos Bandeirantes", no Rio de Janeiro, de acordo com o promotor.

A Promotoria apresentou aos jurados os registros de telefonemas do celular de Macarrão, amigo de Bruno e também réu no processo. Uma ligação é feita em 4 de junho de 2010, às 20h40, do celular de Macarrão para Eliza. "Era a proposta para que ela fosse ao encontro do goleiro, que estava concentrado [no Flamengo]", disse Castro.
Do Rio, Eliza foi trazida para Minas Gerais, "onde Bruno e sua turma poderiam dar cabo da vida dela com mais facilidade", disse o promotor. Castro afirmou que Eliza foi atraída por uma proposta "hipócrita" do goleiro para a viagem que terminou com sua morte. A ex-amante dizia a amigos que o goleiro a "estava enrolando", relatou o promotor. "Ela passou a realizar insistentemente ligações para o réu", disse.
A última ligação feita do celular de Eliza é para Belo Horizonte, cidade para a qual ela foi levada. Depois ela não teve mais acesso o telefone, segundo o promotor. "A partir daí são cinco dias sem uso do celular" até que a ex-amante seja morta, disse Castro.
O promotor destacou a participação de Macarrão na morte de Eliza, dizendo que na noite do crime, ao chegar ao local, Bola deu uma gravata em Eliza e Macarrão chutou as pernas dela, para que ela perdesse o equilíbrio. "Ela ficou com olhos de sangue, segundo o relato do Jorge. A língua foi para fora, ela estremeceu um pouco mais e não se movimentou", disse Castro.
"Eliza não teria sido sequestrada nem morta se não fosse o poder exercido nos bastidores por este facínora. Não podia abalar a imagem de Bruno. Precisava do cara que mantinha a discrição", afirmou Castro.
Antes do cárcere e da morte, Bruno chegou a advertir sua ex-amante a não procurar a polícia ou ele a mataria, de acordo com o promotor, que relembrou o relato de Eliza após ela ter sido levada para Minas Gerais, em 2010.
Carla Silene, advogada de Fernanda, conversa com o réu Macarrão no início da sessão (Foto: Leo Aragão/G1)Carla Silene, advogada de Fernanda, conversa com
Macarrão no início da sessão (Foto: Leo Aragão/G1)
Por isso fico invocado, por vocês não terem nada a ver com essa situação. Não foram vocês que se relacionaram com essa vagabunda dessa mulher aí"
Trecho de carta do goleiro
Bruno para a ré Fernanda
Defesa de Fernanda
A advogada Carla Silene, responsável pela defesa de Fernanda Gomes de Castro, namorada de Bruno à época do desaparecimento de Eliza disse que não é possível condenar sua cliente sem provas de sua participação no crime. "Cadê as provas? [...] Contra Fernanda Castro, pelo cárcere privado de Eliza e Bruninho, essas provas não vieram", afirmou a defensora. "Eu só posso condenar quando eu tenho prova", completou Carla Silene durante a fase de debates.
Ela também questionou a investigação policial do crime. "Minas Gerais possui a pior polícia investigativa de homicídios do Brasil", afirmou, citando um relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). "O sítio sequer foi preservado [para a colheita de provas]". A advogada ainda criticou o promotor do caso por ressaltar atributos físicos da ré. "Parece até que ser feminina hoje é um pecado. Ressaltar atributos físicos", disse sobre a fala do promotor em que a ré foi descrita como "bunduda, coxuda".
A advogada mostrou trechos de cartas enviadas por Bruno para Fernanda. "Poxa, toda hora problema Bruno. E ainda colocam foto de todos e foto sua. Por isso fico invocado, por vocês não terem nada a ver com essa situação. Não foram vocês que se relacionaram com essa vagabunda dessa mulher aí", disse Bruno na correspondência, de acordo com a defesa.
Em sua argumentação, a defensora destacou o sofrimento de Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samudio, mas ressaltou que a mãe de Fernanda também sofre. "O que nós não podemos admitir, neste instante, é que outra mãe, a senhora Solange, que está sentada lá no fundo, sofra com a condenação da filha, Fernanda. Uma moça que namorou o goleiro Bruno por menos de quatro meses. E que por cada mês de namoro recebeu um mês de prisão".
Carla Silene disse que Fernanda não participou de nenhum sequestro e cárcere privado e pediu a absolvição da ré. "Eliza estava encarcerada? Não. Essa moça apresentava um ferimento na cabeça? Não. Havia gente fiscalizando o andar? Não", argumentou ao júri.
Macarrão olha para seus advogados durante apresentação do promotor, às 13h10 (Foto: Leo Aragão/G1)Macarrão olha para seus advogados durante a fala
do promotor no júri popular (Foto: Leo Aragão/G1)
Defesa de Macarrão
Antes da defesa de Fernanda, o advogado Leonardo Diniz, que representa Macarrão,pediu que os jurados ofereçam uma "reprimenda justa" para o réu. O defensor pede que Macarrão seja absolvido dos crimes de sequestro, do qual não teria participado, e também de ocultação de cadáver, já que ele não sabe o que foi feito do corpo de Eliza. O apelo foi feito durante a argumentação da defesa nos debates do julgamento, na tarde desta sexta.
Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol"
Leonardo Diniz, advogado de Macarrão
"Seja aplicada uma condenação, uma reprimenda, segundo o que entenderem da participação dele nesses fatos, mas que essa reprimenda seja justa, que seja proporcional", disse Diniz. O advogado de defesa ainda disse que Macarrão era apenas um "serviçal" do goleiro, e que cumpria ordens de Bruno.
"Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol", disse, referindo-se ao atleta. Diniz ainda lembrou que, durante seu depoimento, Macarrão afirmou ter tentado argumentar sobre o desaparecimento Eliza: "Vai acabar com a sua carreira", disse ao goleiro.
Diniz recorda-se do que foi dito pelo goleiro, segundo o depoimento de Macarrão: "É para fazer eu estou mandando. Aí ele [Macarrão] se submete, adere a essa vontade. Sai, pega Eliza e leva até o lugar, com a imaginação dela de que ela iria ao apartamento".
Diniz questionou as provas trazidas pela Promotoria e tentou desqualificar os depoimentos dos primos do goleiro Bruno Fernandes, Jorge Luiz Rosa e Sérgio Rosa Sales. A estratégia de mostrar os primos como desafetos de Macarrão teve como objetivo contrapor Promotoria nos debates entre defesa e acusação.
No seu tempo reservado à acusação, o promotor Henry Wagner de Castro apresentou uma série de provas que indicam que Macarrão e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foram os executores de Eliza em 10 de junho de 2010. Segundo o Ministério Público, o goleiro seria o mandante da morte de sua ex-amante. Diniz discordou desta versão.
O julgamento
O júri popular, que teve início com cinco réus, segue com apenas dois acusados: Macarrão e Fernanda. Ele é acusado de homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. Ela é acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza e de Bruninho, filho que a vítima teve com o goleiro.
A Promotoria acusa o jogador Bruno Fernandes de Souza, que era titular do Flamengo, de ter arquitetado a morte da ex-amante, em crime ocorrido em 2010, para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. Bruno, a sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tiveram o júri desmembrado pela juíza Marixa e serão julgados em 2013.

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